Na faculdade, tive um (excelente) professor que era conhecido como "O _GRANDE_, O _DEUS_". A comunidade dele do Orkut tinha alunos, ex-alunos e até futuros alunos, e havia um tópico com as frases mais famosas (não acho de jeito algum a comunidade, mas era ótima). Uma delas era algo como:
"Se você entrou neste curso [Bacharelado em Ciência da Computação] e escolheu língua espanhola como opção de língua estrangeira, merece ser reprovado em todas as matérias retroativamente!"
Nunca poderia concordar mais com o _GRANDE_ _SENHOR_, o mestre supremo de Arquitetura de Computadores e Sistemas Operacionais - aliás, passar nas matérias dele era façanha para poucos, e reprovei algumas vezes antes de conseguir. E olha que gosto e falo de espanhol, mas não tem condições de usar espanhol na programação.
Se você trabalha com programação, precisa saber inglês. Isto não é negociável, lamento. Inglês é a lingua franca da programação. A maioria esmagadora das linguagens de programação se baseia no inglês, que compõe a maioria esmagadora do repertório de palavras reservadas das linguagens de programação.
Adicionalmente, se você escreve um bom sistema em código aberto e a documentação mais completa dele está em um idioma diferente do inglês, sua aplicação estará fadada ao fracasso. O exemplo mais emblemático disso se chama GLPI, um sistema de controle de ativos de TI e controle de chamados, escrito em PHP e que integra com os céus e com o inferno. A documentação? Os fóruns? Em francês.
Sim, jovens. Francês. Ainda há a documentação para inglês (incompleta, mas existe), mas o alcance global da ferramenta ficou restrito a 29 países. Ainda que seja bastante coisa, temos que considerar que o mundo tem muitos mais (entre 193 e 206, dependendo da contagem). Eu já vi o GLPI algumas vezes em empresas do Brasil. Funciona bem, apesar de ser PHP. Agora, pense o inferno que é na hora de achar a documentação do Web Service dele e ter que usar o Google Translate frase a frase para entender como usa (tive que fazer isso). Como alguém que já escreveu algumas ferramentas, eu não gostaria de vê-las restritas a 1/9 do mundo.
Veja que não disse até agora em "não falar perfeitamente o inglês". Não dominar a língua bem não é um problema. Eu mesmo aprendi sozinho, levei anos para aprender a falar corretamente, fui zoado por uma porção de amigos e colegas por ter um sotaque manco e não saber formar frases corretamente, mas isso não me fez parar. A função de um idioma é realizar uma comunicação entre duas ou mais pessoas: ainda que isso seja feito precariamente, é tremendamente melhor tentar e falar meio errado do que não conseguir comunicar ideia alguma.
Hoje em dia posso dizer que falo com naturalidade, dominando figuras de linguagem e expressões idiomáticas, e muitas das pessoas que nasceram fora dos Estados Unidos, mas que vivem nele, não falam perfeitamente, ainda que vivam no país por décadas, ouvindo o inglês todos os dias de gente que nasceu nos Estados Unidos. Há quem pense que é preciso ter o idioma perfeito (claro que é bom ter), mas a maioria se contenta em ter um nível suficientemente bom para passar uma ideia no dia-a-dia.
A dificuldade intrínseca não é exatamente simples: a raiz do idioma é anglo-saxônica, diferente do português, que tem raízes itálica e românica. Tudo é diferente: as flexões, as regras gramaticais, as construções frasais. É preciso alguma dose de esforço para aprender. Isso tudo não é problema. O grande problema é se recusar a aprender porque não gosta do idioma.
Empatia, infelizmente, é algo que não é todo mundo que tem.
Quando falamos de produtividade, essencialmente em programação, em que a maioria dos manuais e tutoriais estão em inglês, não dominar o idioma é fatal. É uma condição de desvantagem terrível, melhor dizendo. Você sempre ficará para trás em relação aos colegas de profissão que dominam o inglês e que podem ler um artigo ou tutorial instantaneamente.
O cúmulo disso foi uma empresa que trabalhei cuja escolha de um determinado software era determinada pelo idioma dos manuais, que deveriam estar em português, isso porque o responsável pela área de infraestrutura não dominava o idioma. Nem lia os manuais também, ainda que estivessem em português e tudo, mas isso eu devo falar mais em outros textos.
Limitações evitáveis como esta levam a critérios ruins, à piora de qualidade no desenvolvimento como um todo e perda de competitividade, além de limitar o acesso a melhores salários.
Você não tem motivos para não começar a aprender agora mesmo
Se você chegou até aqui e já construiu sua lista de desculpas para não começar a estudar, e ela envolve dinheiro ou tempo, deixe-me desconstruí-la.
Se o problema é tempo, temos esta pequena lista de cursos gratuitos para você começar:
"Mas só preciso da conversação, ler e escrever eu sei"
Agora, se ainda assim você leu tudo isso e não quer aprender, faça um favor por nós, programadores. Saia da programação e vá fazer outra coisa. Minha sugestão é vender coco na praia.